Quatro
mandatos como vereador e mais quatro como deputado estadual poderiam resumir a
vida de Moacyr André Gomes, pai de Vicente André Gomes. Seria muito pouco para
um homem que dedicou a vida à polítca e à medicina social. E que travou longas
batalhas, antes mesmo de nascer. Facetas do destino, por ser negro e por ter
enfrentado a ditadura. Lutou pela democracia, foi perseguido, viveu na
clandestinidade. Enfrentou tudo com galhardia. Pudera. Era bisneto de escravos
vindos da África em navios negreiros. O vereador Raul Jungmann partilhou um
pouco da vida do ex-vereador e ex-deputado. Não foi à toa que propôs a
homenagem póstuma. Moacyr foi também um dos fundadores do antigo MDB, símbolo
da resistência política à ditadura e luta pela democracia no país.
Jungmann discorreu sobre a vida do homenageado
buscando a historia desde muito antes de ele existir como pessoa. Invocou seus
antepassados negros e escravos, seus bisavôs. Sobreviveram, libertaram os
filhos que por sua vez conseguiram enviá-los para escolas. Chegou a Moacyr,
liberto, pobre, negro, que conseguiu se formar em medicina, ajudar pessoas, e
se eleger diversas vezes vereador e deputado estadual. Quantos de nós,
lembrou Jungmann em seu discurso, não somos levados pela história que nos
antecede, é o caso dele. “Quis o destino que o avô de Moacyr casasse com a
filha de um usineiro. Começavam a cair as barreiras do preconceito. Tiveram 19
filhos entre eles o próprio Moacyr”.
O autor da homenagem puxou pela memória e mostrou
que a história da família é um constante romper de obstáculos do destino.
Recordou que Moacyr foi menino na Várzea, peladeiro, começa a vida por esforço
próprio e aos 33 anos se forma em medicina. O irmão Feliciano, também médico, o
ajuda. Casa com Geni e tem quatro filhos, entre eles Vicente André Gomes.
“Novamente o destino bate à porta de Moacyr. Vereador eleito especialmente pelo
voto de Casa Amarela se vê na contingência de cassar o prefeito Pelópidas
Silveira, por imposição dos militares. Ele não cassa e cai na clandestinidade.
Seus filhos passam necessidade. Depois disso, minha vida cruzou a dele e o
conheci na criação do MDB. Era considerado o Príncipe Negro de Casa Amarela,
título que ele mais gostava, entre tantos que recebeu em vida”.
Vicente André Gomes fez questão de presidir a
reunião que homenageou o seu pai. Agradeceu às dezenas de pessoas que
compareceram à homenagem, dirigindo-se a cada uma delas nominalmente. Ressaltou
que Jungmann havia discorrido sobre a vida de seu pai de forma irrepreensível e
carinhosa. Disse também que havia escrito algumas palavras e entre elas
escreveu ao pai que procurou fazer tudo que ele o havia ensinado. Mas,
emocionado disse também que ele, o pai, não o havia ensinado a viver sem ele.
“Estou só. Não tenho a quem perguntar se errei se acertei”.
Vicente frisou que apesar de tudo, o pai dele,
Moacyr, consegue enviá-lo para fazer medicina na Bahia junto com o irmão,
Feliciano. “Negros que rompem o preconceito racial e econômico”. Vicente
lembrou que eles voltaram médicos para ajudar os mais carentes. Relatou que ele
mesmo havia sido vítima de preconceito. “Quase fui impedido de cursar medicina
por não ter uma mão. Consegui um atestado e me formei. Meu pai ia todos os dias
à faculdade comigo, para me proteger. Tinha receio de que eu precisasse da
outra mão. Ele estava lá para me ajudar. Esse era meu pai”.
Vejam todas as fotos da solene em nosso facebook:
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