A escritora e professora Luzilá Gonçalves Ferreira é a mais
nova cidadã do Recife. Ela recebeu o título no plenário da Câmara Municipal, em
solenidade realizada desta segunda-feira, 9. “Mulher forte, mãe, profissional
reconhecida no campo do ensino, Luzilá foi professora de Literatura Brasileira
e Cultura Pernambucana no Departamento de Letras da UFPE por mais de 35 anos.
Dedicou a vida ao ensino e à produção da arte literária, elevando nosso estado
à referência nacional como sendo terra de escritores e contadores da nossa
história. Doutora em Estudos Literários pela Universidade de Paris VII, ela
também é pesquisadora, foi presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e
Geográfico Pernambucano e é membro “imortal” da Academia Pernambucana de
Letras”, diz a justificativa do decreto legislativo de autoria de Raul
Jungmann, quem fez a proposta antes de se licenciar, no mês passado, do cargo
de vereador.
A solenidade foi presidida pelo vereador Vicente André Gomes
(PSB), também presidente da Câmara Municipal do Recife. Fizeram parte da mesa o
escritor e advogado Jaques Ribemboim, dirigente da ONG Civitatti; a
desembargadora federal Margarida Cantarelli, representando a Academia
Pernambucana de Letras (APL); e o ex-vereador Raul Jungmann. Luzilá Gonçalves é
natural de Garanhuns, no Agreste pernambucano, mas desde a infância abraçou e escolheu
o Recife como sua cidade sobre a qual já escreveu diversos livros. Publicou 43,
entre contos, romances, crônicas, biografias, ensaios e traduções. Lançou, na
sua vasta obra, um ensaio –Humana, Demasiado Humana – sobre a psicanalista
Lou Andréas Salomé; Suaves Amazonas, em que tratou da abolição
da escravatura no Recife; e Presença Feminina, biografias de mulheres
deputadas em Pernambuco. Em sua obra sempre ressaltou o papel da mulher
pernambucana e brasileira na literatura.
Ao propor a entrega do título de Cidadã a Luzilá Gonçalves o
então vereador Raul Jungamnn ressaltou que, além de sua obra intelectual,
Luzilá Gonçalves também tem um trabalho dedicado ao Reciofe. Ela foi uma das
responsáveis pela preservação arquitetônica de um dos bairros mais charmosos da
nossa cidade: o Poço da Panela, onde ainda reside. Moradores, artistas e amigos
do bairro criaram, nos anos 80, o Movimento Amigo de Casa Forte. A entidade foi
presidida por Luzilá, responsável pela criação da Zona de Preservação Rigorosa,
protegendo o bairro, até os dias de hoje, da especulação imobiliária e mantendo
suas construções históricas datadas do tempo da escravatura.
“Pelo seu trabalho como acadêmica, feminista, professora,
pesquisadora e pela prolífica obra literária Luzilá Gonçalves está recebendo
esta homenagem. E pelo seu amor a esta cidade. Não havia como melhor homenagear
a mulher, através dela, neste dia. Por tudo isso, ela é nossa concidadã. Nascer
é um destino. Ser cidadã honorária é uma escolha”, disse o ex-vereador Raul
Jungamnn, que fez o discurso de saudação durante a solenidade. Ele citou, de
cor, detalhes da biografia da homenageada. “A obra de Luzilá tem como
característica a alma feminina, a preocupação com a questão da mulher e com a
cultura. Já seria o suficiente para garantir o espaço no panorama da história e
da cultura pernambucana” disse Jungamnn. O presidente da Câmara, Vicente André
Gomes, disse que era um orgulho poder entregar o título à escritora. O plenário
da Casa de José Mariano ficou lotado de amigos, parentes e intelectuais.
“Este título de cidadã recifense é uma honra e uma alegria.
Justifica-se em parte por uma produção intelectual da qual resultaram trabalhos
de pesquisa realizados sobre o movimento abolicionista do Recife, sobre a
poesia publicada por mulheres em jornais de nossa cidade no século 19, o volume
publicado pela Assembleia Legislativa sobre as deputadas pernambucanas e pelo
menos quatro romances em que a cidade do Recife é vista enquanto cenário de
vidas que o passado nem sempre conservou: o Recife de Ana Paz, a senhora de
engenho da Casa Forte, o Recife que abrigou a baronesa de Vera Cruz, o Recife
do poeta Maciel Monteiro e do Padre Carapuceiro”,afirmou Luzilá.
Ela também falou do amor que sente pela cidade. “Refaço a
frase de Simone de Beauvoir: não nasci recifense, me tornei recifense. A menina
de Garanhuns continuará amando para sempre a garoa da cidade, o colégio 15 de
Novembro onde minha mãe ensinou, a loja no centro do comércio onde meu pai
trabalhou, o perfume de eucaliptos no Parque Euclides Dourado e nos jardins do
Tavares Correia”, disse. E concluiu o discurso lembrando de quando veio para o
Recife e de das diversas época que vivenciou como, por exemplo, o período em
que estudou na Escola Normal, onde hoje funciona no prédio da Câmara Municipal
do Recife. Luzilá também leu uma crônica de sua autoria, que expõe o afeto que
desenvolveu pelo Recife, e que foi publicada no “Álbum do Recife”, organizado
por Jaci Bezerra, cujo título é “Esfolhando o corpo amado”. A crônica ficou
famosa, pois era lida com frequência, em eventos, pelo ator Rubem Rocha Filho.
Confira as fotos:
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